Destino

Destino

Sentado numa pequena rocha, a pobre criatura chorava. Sua fisionomia desengonçada, um tanto desproporcional em relação às suas asas, pequenas e inúteis, destacava-se sobre os últimos raios do astro-rei.

            Observava o horizonte, acompanhando com o olhar um pequeno grupo de semelhantes que voava sobre aqueles vales. Sua família, seus amigos, seu amor; todos estavam lá, indo embora. Suas asas possuíam plumas magníficas. O jeito como eles pairavam sobre o ar encantava e iludia a criatura. Eram tudo o que ele queria ser.

            Não tentaria voar novamente, já havia aceitado sua condição: nunca iria acompanhar o ritmo do ar. Ajeitou-se na pedra, alongando seu enorme pescoço.

            “Eu sou muito estranho...”, pensava.

            Estavam longe demais, mesmo se quisesse, seria impossível alcançá-los. Lembrou-se de seus parentes, a pena que sentiam diante sua situação. O olhar perplexo e triste de seu pai ao vê-lo se frustrar diversas vezes – em suas vãs tentativas de alçar voo.

            Seus amigos, todos de sua infância, quando voaram pela primeira vez, esqueceram-no. Viveram suas paixões e desilusões longe dele. Mas esse não era o maior de seus problemas; e sim ela. Suas plumas belas, sua fisionomia gloriosa lhe conquistaram. Mas ela nunca soube de seu amor. E nunca saberia.

            Viu as pequenas silhuetas sumirem através das montanhas. Eles voltariam – sempre voltavam –, mas ele não queria ficar sozinho. A curiosidade acompanhava sua mente a todo o tempo, queria conhecer o mundo, outras criaturas; tudo isso ao lado deles.

            Sentiu seu mundo acabar mais uma vez. A tristeza contida nele envolveu sua garganta; ergueu a cabeça ao ar e começou a cantar. O som atravessou vales e rios até alcançar o pequeno grupo que voava em direção ao desconhecido. Sentiram-se alegres e revitalizados, mas só saberiam a fonte daquela música depois de muito tempo.

            E ele cantou por horas, deixando a tristeza esvair de si. Quando a escuridão havia se estabelecido, sentia-se feliz pela primeira vez na vida. Havia descoberto seu destino.

 

- Fim -

Fabio D'Oliveira